quinta-feira, 13 de setembro de 2012



Eu não queria ir embora e esperar o dia seguinte. porque cansei dessa gente que manda ter mais calma. 
E me diz que sempre tem outro dia. 
E me diz que eu não posso esperar nada de ninguém. 
E me diz que eu preciso de uma camisa de força. 
Se você puder sofrer comigo a loucura que é estar vivo. 
se você puder passar a noite em claro comigo de tanta vontade de viver esse dia sem esperar o outro, 
se você puder esquecer a camisa de força e me enrroscar no seu corpo para que duas forças loucas tragam algum aquilibrio. 
Se você puder ser alguém de quem se espera algo, afinal, é uma grande mentira viver sozinho, 
permita-se. 
Eu só queria alguém pra vencer comigo esses dias terrivelmente chatos.”

Tati Bernardi


...pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos, 
coubera arrancar de seu coração a flecha farpada.
... para que te serve essa cruel boca de fome? 
_para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, 
já que tenho que te doer... 
...para que te servem essas mãos que ardem e prendem? 
-para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto ....

Clarice lispector

Disse pra mim. 
Nenhum pio. 
Não vou falar nada. 
Já que sou tão imprópria, inadequada, boba. 
Já que nunca basto e se tento me excedo. 
Já que não sei o que deveria ou exagero em querer saber o que não devo. 
Nunca entendo exatamente, nunca chego lá, nunca sou verdadeiramente aceita pela exigência propositalmente inalcançável. 
Meu riso incomoda. 
Meu choro mais ainda. 
Minha ajuda é pouca. 
Meu carinho é pena. 
Meu dengo é cobrança. 
Minha saudade é prisão. 
Minha preocupação chatice. 
Minha insegurança problema meu. 
Meu amor é demais. 
Minha agressividade insuportável. 
Meus elogios causam solidão. 
Minhas constatações boas matam o amor. As ruins matam o resto todo. 
Minhas críticas causam coisas terríveis. 
Minhas palavras cuidadas incomodam. 
Minhas palavras jogadas, mais ainda. 
Minhas opiniões sempre se alongam e cansam. 
Minhas histórias acabam sempre no egocentrismo ou preconceito. 
Meu sem fim dá logo vontade de encurtar. 
Minha construção, desconstrói. 
Meus convites quase nunca agradam. 
Meus pedidos sempre desagradam. 
Minha voz doce assusta. 
Minha voz brincalhona é ridícula. 
Minha voz séria alarde. 
Nenhum pio. Disse pra mim. 
Então fico me perguntando sobre o que deveria dizer, se só sei o que sinto.
Se digo algo sobre minha vida, só sei falar de mim. 
Se digo algo sobre a vida dele, coitada de mim, achando que sei alguma coisa da vida. 
Se falo sobre coisas me sinto mais uma delas. 
Sobre livros, nunca são os que interessam. 
Sobre minha reportagem, nem quis ler.
Meus sonhos evito falar, um medo de ser menina. 
Quieta. É assim que será. 
Se digo certo, isso logo acaba. 
Se digo certeiro, acabou. 
Se digo errado, nunca acaba.
Nenhum pio. Combinei comigo.
Nadinha. Não vou falar nada. 
Sobre dor não toca. 
Sobre prazer toca pouco. Nada. 
Porque toda vez que eu pergunto, quase ofende. 
E se respondo, ofende mais. 
E se exclamo, minha vontade de viver soterra. 
E se são três pontinhos, não posso. 
Se começo preciso terminar. 
Mas quando termino, ele já não está mais. 
Se repito, quase explode. 
Se não explico, pareço louca. 
Se explico, sou louca. 
Quieta. Isso! Você consegue! 
Se for o que eu penso, eu penso errado. 
Se for o que eu não penso, errei por não pensar. 
Se não for nada disso, eu que pensasse antes. 
Se estou animada, cuidado com a rasteira. 
Se estou desanimada, não tem mão pra levantar. 
Nada. Não vou sussurrar. Nem gemer. Nenhum som. Respiração muda. 
O silêncio absoluto. 
Olhando pra ele. Lembrando de quando ele me disse que é no silêncio que se sabe a verdade. 
E a verdade chega como um teto gigante que desaba numa cabecinha de vento. 
O que eu mais temia. 
O que eu não queria descobrir. 
Ela me diz. 
E o pior é que eu nem posso falar por ela. 
É tudo mentira.

Tati Bernardi


Eu não sei guardar coisas. Se eu compro chocolates, como todos no mesmo dia. Detesto saber que algo me espera, quero acabar logo com aquilo. Não sei lidar com a responsabilidade da felicidade. A felicidade guardada na bolsa ou na vida. Eu tenho um homem lindo me esperando essa hora, e eu quero com todas as células do meu corpo ir ao encontro dele. 
Mas eu não sei lidar com tanta felicidade, por isso estou planejando a morte dele. Estou planejando matá-lo com minha estupidez, quero que ele morra fulminado pelas minhas armas de boicote. Quero que ele perceba o quanto sou chata, ciumenta, louca e doente. E que ele enjoe logo da minha cara abatida de intensidade. Que ele pegue logo bode do meu cansaço em viver tanto, porque vivo muito mesmo quando estou deitada olhando para um ponto fixo. É tão cansativo ser eu mesma com todos os meus medos e neuroses, e quero que ele sinta o fardo do meu peso. Morra e me liberte dessa alegria incontrolável. Você me roubou de mim mesma. E eu sou tão ciumenta que estou com ciumes de mim. Você me tirou da minha vida incompleta. E me transformou numa completa idiota. O amor é uma doença. Eu sinto náuseas, febres, dores musculares. Eu acordo assustada no meio da noite.E esse mundo é tão novo pra mim Que eu estou pequena nele, e preciso de você o tempo todo para me abraçar e dizer que está tudo bem. E quando você não está por perto, eu caio. Porque não sei nada desse mundo de alegrias e coisas bonitas. Você não me deu saída. Você transformou todas as vozes que me davam escapatórias para outros corredores, em sons sem lábia. . A nova vida que quero viver ao seu lado. Ao lado do homem que eu odeio porque nunca amei tanto. Ao lado da felicidade que eu odeio porque se ela acabar, não sei mais se consigo voltar pra casa. E nem se quero. Era eu, entende? Era eu que me atracava com o lado errado da vida para estar sempre certa. Era eu a resposta para todas as perguntas que ninguém tem coragem de perguntar. Sim, o mundo é imperfeito, as pessoas traem, o amor não existe . Agora eu estou aqui, inconformada com o seu passado, querendo matar suas lembranças. Com ciumes do seu silêncio porque ele está com você há mais tempo do que eu e eu tenho medo do quanto ele te consome, com ciumes do seu sono porque ele te leva do meu foco. Com raiva da sua importância porque ela me congela, com raiva do tempo que não dura para sempre quando você me olha sabendo das minhas loucuras e ainda assim me amando. Agora eu estou aqui, querendo que todos os amores do mundo durem para sempre, e que nenês nasçam, e que árvores cresçam e que garotas vagabundas não nos invejem e que os desejos das nossas sombras não nos traia. Pode parecer maluco, mas todas as minhas súplicas para que você desista de mim, é um jeito maluco de pedir que você não desista nunca, pelo amor de Deus.

Tati Bernardi


Eu só queria que chegasse um e-mail seu. 
Ou melhor: que você chegasse ao vivo. 
E que você me trouxesse aqui a sua barriga, a sua nuca, a parte mais branca das sua coxas, a sua cara de bravo até pra sentir prazer e o seu cheiro 
Me traz você, por favor. 
Me traz e leva embora todas essas coisas chatas que só servem para ocupar minhas horas enquanto você não chega.
Porque me jogar pelos cantos e suspirar você é só o que eu consigo fazer. 
Aí eu tomo um banho bem quente, pra te espantar da minha pele. 
E canto bem alto, pra te espantar da minha alma. 
E escovo minha língua bem forte, pra separar seu gosto do meu. 
E quase vomito, pra parir você do meu fígado. 
E tento ser prática e parar de suspirar. 
E tento abrir a geladeira sem me perguntar o que eu poderia comprar pra te agradar. 
E tento me vestir sem carregar a esperança de esbarrar com você por aí. 
E tento ouvir uma música sem lembrar que você gosta de se esfregar de lado em mim. 
E tento colocar uma simples calcinha e não uma bala perdida pronta pra acertar você. 
E tento ser só eu, simplesmente eu, novamente, sem esse morador pentelho que resolveu acampar em mim. 
E nada disso adianta. 
E o esforço pra não fazer nada disso já é fazer tudo isso.
E eu escrevo um parágrafo e corro pra ver se tem e-mail. 
E eu escrevo uma linha e corro pra ver se tem mensagem de texto. 
E eu não escrevo nada e também não corro, apenas deixo você chegar aqui do meu lado, em pensamento. 
E me pego sorrindo, sozinha. 
E me pego nem aí para todo o resto.
Mas sabe o que acontece enquanto isso? 
Enquanto eu não me movo porque estou lotada de você e me mover pesa demais? 
O mundo acontece. 
O mundo gira. . 
Estão todos fazendo algo mais importante e mais maduro do que suspirar como uma idiota e só pensar em você. 
Eu tenho muita inveja dessas pessoas maravilhosas, adultas, evoluídas e espertas que conseguem separar a hora de ir a uma reunião de condomínio com a hora de desejar alguém na escada do condomínio. 
A hora de marcar o dentista com a hora de engolir alguém. 
A hora de procurar a palavra "macambúzio" no dicionário com a hora de se perder com as suas palavras que de tão simples parecem complexas. 
A hora de ser inteira e a hora de catar meus pedaços pelo mundo enquanto você dá sinais desmembrados.
Eu não consigo nada disso, eu me embanano toda, misturo tudo, bagunço tudo.
A minha única dúvida é se sou a única idiota a fazer isso comigo ou se sou a única idiota a admitir que faço isso comigo.

Tati Bernardi


(...) Comecei a ficar mais atenta às verdadeiras razões dos meus choros, que, aliás, costumam ser raros. 
_Já aconteceu de eu quase chorar por ter tropeçado na rua, por uma coisa à-toa. 
_É que, dependendo da dor que você traz dentro, dá mesmo vontade de aproveitar a ocasião para sentar no fio da calçada e chorar como se tivéssemos sofrido uma fratura exposta. 
_Qualquer coisa pode servir de motivo. 
_Chorar porque fomos multados, porque a empregada não veio, porque o zíper arrebentou bem na hora de sairmos pra festa. 
_Que festa, cara-pálida? 
_Por dentro, estamos em pleno velório de nós mesmos, chorando nossa miséria existencial, isso sim. 
_Não pretendo soar melodramática, mas é que tem dias em que a gente inventa de se investigar, de lembrar dos sonhos da adolescência, de questionar nossas escolhas, e descobre que muita coisa deu certo, e outras não. 
_Resolve pesar na balança o que foi privilegiado e o que foi descartado, e sente saudades do que descartou. _Normal, normalíssimo. São aqueles momentos em que estamos nublados, um pouco mais sensíveis do que gostaríamos, constatando a passagem do tempo. 
_Então a gente se pergunta: o que é que estou fazendo da minha vida? 
_Vá que tudo isso passe pela sua cabeça enquanto você está trabalhando no computador. 
_De repente, a conexão cai, e em vez de desabafar com um simples palavrão, você faz o quê? 
_Cai no berreiro. Evidente. 
_Eu sorrio muito mais do que choro, razões não me faltam para ser alegre, mas chorar faz bem, dizem. 
_Eu não gosto. Meu rosto fica inchado e o alívio prometido não vem. Em público, então, sinto a maior vergonha, é como se estivesse sendo pega em flagrante delito. 
_O delito de estar emocionada. Mas emocionar-se não é uma felicidade? 
_Neste admirável mundo de contradições em que a gente vive, podemos até não gostar de chorar, mas trata-se apenas da nossa humanidade se manifestando: a conexão do computador, às vezes, cai; por outro lado, a conexão conosco mesmo, às vezes, se dá. 
_Sendo assim, sou obrigada a reconhecer: chorar faz bem, não importa o álibi. 
_É sempre a dor do crescimento. 

Martha Medeiros


É assim que me sinto... reticente...
É assim que vou andar... reticente...
Deixar evoluir......para ponto final ou para ponto nenhum......
para parágrafo ou para fim de texto - fim de história...
A interrogação está implícita...As dúvidas existem, claro...
Mas hoje estou assim... de reticências...

 A. D.